Há mais de uma semana não posto nada aqui e acredito que isso se deva simplesmente por não saber como organizar as inúmeras idéias que surgiam em minha mente ao mesmo tempo. Mas hoje definitivamente era hora de deixar esse “silêncio” provocado pela desordem geral de pensamentos um pouco mais centrado e me lançar um pequeno grande desafio: descobrir o que eu realmente fiz de importante na minha vida?!
Um Mississipi: Hoje assisti ao filme que levou Sandra Bullock a ganhar o Oscar de melhor atriz e realmente a sua interpretação estava impecável. Agora o filme não vale a pena ser assistido somente pelo brilhante trabalho da atriz, mas por todo seu enredo envolvente, encantador e motivador. Não, não é um filme “auto-ajuda” é apenas uma história que apresenta os dois lados da moeda, os dois caminhos a serem seguidos, as duas sortes que se pode ter na vida, as duas maneiras de ver o mundo e a absoluta certeza de suas próprias escolhas. Ok, talvez esse não seja o sentido real pretendido pelo roteirista do filme ao relatar uma história tão encantadora baseada em fatos reais, entretanto foi a minha interpretação pessoal. Fiquem a vontade para discordar.
Dois Mississipi: Um garoto que tinha tudo pra dar errado, tem seu caminho cruzado por uma mulher que o adota como filho, ou melhor uma família inteira que o adota como tal e transforma totalmente a vida daquele “excluído socialmente” (já disse o quanto detesto o termo “excluído socialmente”?) de forma que ele passa a fazer parte de um todo. Então, por um momento pensei na história da Preciosa, uma menina que teve o azar como seu anjo da guarda, levando-a à uma vida em que nada é certo, em que nada dá certo, e mesmo assim ela conseguiu sobreviver. É mais ou menos o que acontece com Michael Oher (o “precioso” como acabei apelidando-o), ele poderia ter dado errado e ter afundado na própria história, toda via escolheu seguir – sozinho – um caminho que ele nem ao menos sabia onde daria, dando uma virada ao encontrar com a família Touhy que lhe dá mais que uma casa, ele passa a ter uma família e toda uma vida. Então, o que parecia um sonho irreal para aquele rapaz e se tornou algo mais que real e possível. Levando a crer que qualquer sonho é pode acontecer, que qualquer reviravolta é viável e mais, que qualquer escolha é aceitável e leva a um final que não seria necessariamente exato, mas modificável a cada atitude, sendo iluminado a cada pequena e/ou grande vitória. O que mais aprendi com esse filme definitivamente foi sobre escolhas, tanto a fazê-las quanto respeitar as escolhas dos outros e apoiá-los por isso, principalmente se forem pessoas significantes.
Três Mississipi: Quando falo de pessoas significantes, não quero dizer que há pessoas insignificantes, apenas que existem aquelas que significam mais que outras em nossas vidas, é aquela história da tal empatia, entende? Cada pessoa tem uma significância especial e particular e cabe aos que estão ao seu redor notá-las, afinal ninguém é obrigado a andar com uma placa informando todos os seus defeitos e qualidades como se fosse um produto a venda para ser amado e apreciado. Cada pessoa deve ser conquistada e aceita pelo que é, simplesmente por isso. Ou pelo menos deveria ser assim. Eu deveria ser assim e admito meu lado “errado”, porem humano, de ser, afinal eu julgo, menosprezo e sou bem cruel quando quero. Fiquem a vontade para me jogarem pedras, eu tenho defeitos e pecados (alguns acho que até bem graves) e não é que eu me orgulhe de tê-los, mas eles simplesmente fazem parte de mim e me tornam humana. Estou pronta para a chuva de pedras, então podem começar o bombardeio.
Quatro Mississipi: Qual foi a coisa mais importante que fizeste no dia? Parabéns por ela. Toda grande/pequena/louvável atitude deve ser parabenizada, não sei porque não fazemos esse tipo de “comemoração” diariamente e porque não damos valor a essa pequenas vitórias. Alguém sabe? O meu grande feito do dia foi ter dado um beijo e um abraço gratuitos em meu pai. Não, não tenho nenhum rancor, ele é um ótimo pai que sempre esteve presente e fez/faz de tudo pra me agradar, eu que sou fria e estúpida mesmo (mais chuvas de pedras, eu deixo). Não fui sempre assim, nunca fui um poço de sentimentalismo, mas também não costumava ser tão introspectiva com relação a sentimentos, acho que isso foi uma evolução nos meus vinte e um anos de vida. Eu cresci e fiquei assim, fria e só. Uma vez brincaram, não lembro o momento onde e nem quem soltou essa pérola, mas disseram as seguintes palavras: “tu ainda vais morrer triste e só”, desde então esse se tornou meu maior medo. O medo de que seja verdade, de que seja a minha verdade, quase que como uma premonição, entende? Não é que eu seja pessimista ou coisa assim, é apenas um relato real. Desde então me esforço todo dia pra ser feliz e acredito estar conseguindo, posso até morrer só, mas não morrerei triste (espero). Voltando ao carinho dedicado ao meu amado pai, senti-me criança novamente e dessa forma um tanto insegura por pensar que sem aquele abraço eu não sou nada, ou pelo menos não sou ao menos uma metade e me perguntei o porquê de passar tanto tempo sem fazê-lo e, adivinhem? Não cheguei à conclusão nenhuma, o que me levou a crer que minha pequenas vitórias diárias fazem parte quase que unicamente de algo que eu já imaginava: meu egoísmo. Então, se a coisa mais importante do seu dia envolve unicamente a sua pessoa, ainda é tempo de fazer uma nova coisa que envolva alguém que ame, vamos, o dia ainda não acabou.
Cinco Mississipi: Ainda estou pensando o que eu realmente fiz de importante e que mudasse o mundo, que marcasse de fato algo ou alguém. E lembrei da história da pequena Nujood que deixou seu nome na história ao atravessar uma cidade, uma cultura, um mundo de preconceitos e aos dez anos de idade, com toda a coragem e força acumulados em seus dez anos de vida, parou diante de um juiz e solicitou a celebração de seu divórcio. Uma pequena mulçumana, que revolucionou a história do mundo e nos mostrou uma justiça que lutou pelo direito a infância digna de uma menina que denunciou não aguentar mais.
Seis Mississipi: Durante essa semana, li um texto sobre a existência do amor e, diante de alguns acontecimentos, cheguei a conclusão de reafirmar o que disse anteriormente em um post de Ano Novo, de que acredito no amor como um sentimento existente de várias formas e tamanhos e não unicamente como um sentimento ligado ao sofrimento, dedicação e abdicação total. Ele está ligado a tudo, entretanto é mais comum ser ligado a dor, ao aperto no peito, borboletas no estômago, aceleração das batidas do coração e calor “eterno” e dominante de corpo e alma. Agora deixemos de lado por um instante e extremismo do grande amor e nos dediquemos a pensar nos pequenos amores, que tal? Eu pensei nos meus pequenos amores e percebi que vivi toda minha curta vida somente de pequenos amores e soube/sei (pelo menos eu acho) aproveitá-los ao máximo e isso é bom, não ótimo, mas bom. Afinal, é como se faltasse alguma coisa, é como se eu vivesse uma história incompleta. Todo mundo vive o grande amor, uma ou várias vezes, eu ainda não vivi nenhuma e isso me deixa de presente uma lacuna imensa na minha memória sentimental. Por favor, não sintam pena de mim, eu detesto que sintam pena de mim, até porque não existe um porquê para isso, ok?
Sete Mississipi: Não confio em pessoas “extremas”, vocês confiam? Eu sempre afirmei isso a mim mesma e a todos que me perguntam. Depois de olhar ao meu redor percebi que as pessoas que mais confio são extremamente não-extremas e ao mesmo tempos extremas em tudo a cada tudo, entenderam? É basicamente como se elas se dedicassem a ser o que cada momento pede pra serem, ou extremamente felizes, ou tristes, ou carentes, ou sensatas, ou estudiosas, ou irônicas, ou sensíveis, ou prestativas, ou egoístas, etc. Dessa forma, cheguei a conclusão que extremos não são defeitos, mas 100% extremo para tudo de forma única e inexistente, pelo menos pra mim, então não confio. Prefiro quem vive extremamente coisas diferentes de formas diferentes sem nunca ser um extremo por inteiro. Fui entendida? Tudo bem, depois explico melhor.
Oito Mississipi: Ainda não cheguei a nenhuma conclusão concreta sobre o que realmente fiz de importante na minha vida, tenho vinte e um anos e ainda não marquei meu nome na história e nem fiz nada altamente significante. Sabe, vejo pessoas mudando pessoas, coisas, situações, histórias, o mundo, com o que elas conseguem fazer de melhor, com o que elas amam fazer. Vocês já repararam como a música acalma? Como um bom livro te faz pensar? Como um bom filme te entusiasma? Como um pelo projeto empolga? Como uma bela fotográfica fala por sozinha? Repararam como tudo que é feito com o tal do “amor” realmente muda uma pessoa, coisa, situação, história, etc? Vocês já descobriram o que realmente amam fazer na vida? Eu ainda preciso pensar um pouco mais para formar minha sincera e completa opinião e conclusão sobre isso.
Nove Mississipi: Semana passada, mais ou menos quinta ou sexta, tava procurando meu seis de paus (sim, o mesmo do post anterior) e não o encontrei em lugar nenhum, então pensei que talvez ele tivesse partido da mesma forma misteriosa com que surgiu na minha vida: com o vento. Mentira, não pensei em nada tão poético e/ou filosófico. Enfim, o que importa é que hoje encontrei esta carta de baralho no chão do meu carro e não me pergunte como foi parar lá, porque eu simplesmente não faço ideia, apenas resolvi deixá-la lá, guardada, como um “anjo da guarda”. Pode ser uma superstição boba, mas já que ela não tá fazendo mal a ninguém e eu não consigo pensar em outro lugar melhor, preferi deixá-la lá, depois penso melhor onde guardá-la e/ou o que fazer com ela. Sendo que depois dela passei a repensar as coisas na minha vida. Lembrando que repensar, rever, reanalisar, essas coisas, não é exatamente o mesmo que refazer, revolucionar e/ou modificar, é apenas olhar novamente para algo e reafirmar ou não o que existe. Lembrando que esse é um conceito particular e ninguém é obrigado a segui-lo.
Dez Mississipi: Ainda tenho muito o que viver, acredito, então, quem sabe eu ainda faça algo que mude a história (eu não), ou já tenha feito algo que mude alguma história (talvez até a minha). Então pensarei melhor a respeito para depois voltar com uma resposta mais direta e conclusiva sobre o assunto. Por hora deixo em aberto qualquer questionamento sobre algum grande feito pessoal. Pensem a respeito sobre o assunto em relação a si próprios também, isso se quiserem e acharem que vale a pena.
Apenas como observação final, uma cena do filme de hoje que realmente achei brilhante foi quando ao ser questionado do porquê de não ter ido para o “lado errado”, o Big Mike para e responde mais ou menos assim(e quando digo isso tenham certeza que essas não são as mesmas palavras usadas, afinal não tenho uma memória muito fotográfica): “Quando minha mãe ia se drogar e fazer esse tipo de coisas feias, ela me mandava fechar os olhos, depois falava para abrir e o mundo todo seria belo e tudo ficaria bem…”
Então deixo um exercício para quem quiser: feche os olhos, conte dez Mississipi ou quantos achar necessários, respire fundo e ao abrir os olhos tente ver um mundo melhor, então tudo ficará bem. Isso não é uma certeza, mas sem dúvidas ajuda a relaxar e criar forças (por mínimas que sejam) para enfrentar seja lá o que for.
P.S.: Para quem não sabe ao se contar utilizando “Mississipi” como intervalo se chega o mais próximo da exatidão do espaço de tempo do segundo.
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